segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Fiéis à moda de Kusturica....


Já quando namorava uma rapariga da margem sul, e andava muito na noite, tinha a noção que é neste período que ocorrem as histórias mais bizarras. E quando evoco a expressão bizarra, há sempre que tomar em consideração que sou o rei da improbabilidade. Assim sendo, quando lêem esta expressão num texto meu devem ter em consideração que na realidade os eventos são elevados ao quadrado e multiplicados por 10 em termos de estranheza.

Aos domingos costumo estar sozinho a trabalhar num bar do bairro alto. Por norma, esta é uma noite bastante calma, ainda que seja impossível prever a quantidade de clientes que vou ter.

Se for preciso, durante a noite vejo uma mão cheia de almas, mas também pode acontecer encher o bar e eu andar feito doido a atender toda a gente.

Porém, ontem, a noite foi completamente estranha, recheada de personagens surreais e eventos non-sense do melhor.

Para começar, e em termos de preparativos para abrir o bar, foi muito mais fácil que é costume. Já havia limas cortadas, não faltavam morangos nem hortelã, e até havia todo o tipo de garrafas.


Como tal, foi fácil e rápido a abertura. Primeiramente vêm os clientes habituais, uma série de amigos e dois ou três clientes de passagem. Nada de mais. Meia dúzia de imperiais, uma caipirinha aqui, outra ali e muito espaço para a conversa. Acompanhado pela Cátia, ia fazendo umas bebidas, estando esta absolutamente fascinada pelo meu manejo do Shaker, comparando-me mesmo a Tom Cruise em “Cocktail”. Talvez um dia me dedique também à cientologia x)

A senhora que costuma fazer a limpeza do nosso bar, a nossa querida dona Graça, também apareceu ontem, naturalmente para cobrar o que lhe tinha prometido no dia anterior: o cd de Regina Spektor, “Begin to Hope”. É fascinante ver pessoas de gerações tão diferentes (a senhora tem 60 anos) se apaixonam pela Regina e pela sua voz doce.

A certa altura entramos no período bizarro. Em primeiro lugar entra um grupo de malta que consideraria típica de encontrar no Chapitô ou no Adamastor. Provavelmente Erasmus, cobertos de rastas, bonés e outros gadgets característicos que indiciam um determinado estilo de vida. Literalmente montam a barraca equando digo literalmente é mesmo literalmente. Ocupam uma parte do bar, tiram um verdadeiro Kit de fumos e quase que ia jurar que iam montando um estendal. Com eles vinha um cão, faltando apenas um pato, um bando de cabras e uma banda para serem umas verdadeiras personagens de um filme de Emir Kusturica.

El Perro

Diz a lei que os cães tem de ficar na rua e eu fiz questão de lhes dizer isso mesmo. Sem qualquer tipo de problemas acedem ao meu pedido, deixando uma verdadeira fera (um cão pequeníssimo) na entrada do bar. E aí ele ficou, timidamente deitado.

Entre cheiros estranhíssimos vindos da mesa dos seus donos, há alguns que conseguia identificar. Uns claramente eram de ervas, outros de cabelos queimados (???). O bar estava transformado numa espécie de Boom Festival, e eu até estava a achar piada, pois no domingo ter muita gente num bar é algo sempre bom.

Passado uns minutos começa a chegar mais gente, sempre da mesma maneira. Primeiro ficavam fascinados pelo “nosso” suposto cão de guarda, depois reparavam no placard dos preços e entravam.

O grupo que se seguiu era constituído por alemães, todos “corridos” a Mojitos e Gin Tónico. Quando dou por mim, este quarteto de alemães tinha-se posicionado perto de uma mesa só para duas pessoas, mas em vez de puxarem mais dois bancos, decidem literalmente (aqui vamos nós outra vez) deitar-se no chão do bar. Menos para eu limpar, pensei eu.

Segundos depois, e estando eu ainda ocupado mentalmente com o que estava a suceder à minha volta (parecia um filme de Paul Thomas Anderson, com segundos e “terceiros” planos de acção intensos), entra um grupo de americanos, logo seguidos de um grupo de belgas da zona flamenga. Pelo meio ainda havia um ou outro português, mas claramente ontem foi uma noite muito internacional. Até parece que estou a descrever a volta a França...lol.

Por entre os donos do cão que continuavam a fumar coisas estranhíssimas e a beber caipirinhas, os alemães dos Mojitos e Gin Tónico deitados, um casal do grupo dos americanos decide ir para a casa de banho fornicar. Curiosamente, eu nem me apercebi de nada (só no fim da noite me confidenciaram), pois estava embrenhado em fazer bebidas e estupefacto pelo “Carnivale” que o bar parecia se ter transformado.

O Bêbado Bipolar


Já com os alemães de saída, e sem os donos do cão, chega o elemento mais comum de encontrar num bar: o bêbado da noite. Primeiramente, e de forma cordial, começa por pedir uma imperial e pergunta onde é a casa de banho. Eu respondo a tudo e tiro a imperial.

Quando regressa da casa de banho acusa-me a mim e a todos os que trabalham em bares de “andar a espalhar a doença”. Qual doença, perguntam vocês. Não sei. Confesso que não faço a mais pequena ideia do que ele dizia.

Mais uns minutos de conversa non-sense e sou questionado de onde são os meus pais e avós. Daqui, digo eu, ao que ele replica com um violento “Não são nada”. A partir daqui as variações de humor desta personagem são cada vez mais intensas, variando entre a suavidade e humildade das palavras com gritos e murros no balcão.

É nestes momentos que reparo como mudei nos últimos meses. Outrora muito mais instintivo, hoje em dia aguento mais conversa de bêbado, sempre com o objectivo de que se tiver de haver merda (a.k.a. porrada), tudo farei para nunca ser no local onde trabalho. Já com a minha quota de pachorra nos limites, tal como a do nosso segurança, deixamos o homem barafustar até se cansar e decidir ir embora. E lá foi ele com a maior calma e descontracção do mundo, como se minutos antes não tivesse tido um violento momento de raiva descarregada no balcão.

O momento "Clerks" da noite


Posto isto, já pouco mais poderia acontecer. A não ser que entre amigos surja uma conversa sobre o Second Life. Inicialmente nem estava a entender do que estavam a falar, pois estava a trabalhar e concentrado no que estava a fazer (para variar).

Entrei na conversa no momento em que ouvi dizer que alguém não tinha casa por não ter pago a renda. Inicialmente pensei que estávamos a falar do mundo real e de um verdadeiro drama humano, e por isso prestei mais atenção. Porém, eles estavam a falar mesmo de mundos virtuais, onde a Sara era sereia, uma verdadeira atracção turística não remunerada e gostava de ver o nascer do sol na varanda da sua casa ao pé dos corais.

E não me posso esquecer da melhor. Uma amiga espanhola da Sara tinha namorado no Second Life com o qual dividia a renda da casa (sim, ainda no "jogo"). Um dia chega ao seu lar e encontrou-o na cama com uma gaja qualquer que ele também conheceu lá. Consta que a moça ficou mesmo abalada.(???)


Em primeiro lugar, imaginem que não estão a falar do Second Life e apanham esta conversa a meio. A vossa primeira reacção é, “Meu Deus, a moça endoidou”. Contudo, e já contextualizado, tudo faz muito mais sentido. Ou talvez não. Esqueçam. Tudo é muito bizarro na mesma.

A conversa começa a descambar e começamos a discutir temáticas como, o que é que as sereias comem? Se comem peixes são canibais, e lá se vai todo o encanto que têm. Será que só comem algas? Não pode ser. Teriam problemas nutricionais. Com tanto sal na água, não têm problemas de hipertensão? Como vêem, questões muito incisivas.

Já numa perspectiva de capitalismo selvagem imaginamos abrir uma fábrica de conservas de sereia e todo um mundo de caudas diferentes fashion que lhes podemos vender. Enfim. Conversa de parvos, extremamente hilariante.

A noite lá termina, pelas duas da manhã, e toca de limpar a casa. Como memórias, fica o fascínio pelo barman que manejava o shaker à Tom Cruise, o grupo que fumava tudo (cabelo incluído) e tinha um cão, os alemães que gostavam de se deitar no chão a beber Mojitos e Gin, os americanos que decidiram amar-se (ou whatever turns you on) na casa de banho, o bêbado bipolar e uma conversa sobre sereias no Second Life.

Uma noite diferente, mas muito...muito divertida.

A repetir...

Extra: Qualquer noite bizarra/divertida tem direito a banda sonora. Aqui fica ela, em forma EP.

Fidelity- Regina Spektor
Shh - Frou Frou
Mouthwash - Kate Nash
That’s Not My Name-The Ting Tings
Kids – MGMT
Galvanize - Chemical Brothers
Galang - MIA

3 comentários:

29 disse...

Aposto que o Tom cruise não tinha tanta agitação no cocktail!!! Bolas,foi surreal!!!

Rosallis disse...

Dá-lhe mais uns meses e vais ver é o Bizk num Tom Cruzes versão "Tropic Thunder"

XD

Plaaaayyaaaaaa... big dick playyaaaa

Patrafernalia disse...

Noite memorável indeed... ;)